quarta-feira, 20 de março de 2013

Corredores Ecológicos - Bruno Lopes

Devido às ações antrópicas, os ambientes estão cada vez mais fragmentados e, além disso, sem conectividade entre essas áreas, as quais se denominam manchas. Com a fragmentação dos habitats naturais se diminui a taxa de crescimento populacional, comprimento e diversidade da cadeia trófica.
MacArthur & Wilson (1963, 1967) explicaram esse acontecimento relacionando-o a Teoria da Biogeografia de Ilhas, onde acreditavam que em uma ilha com maior extensão, as taxas de extinções e imigrações se igualariam, mas em ilhas pequenas (justamente o caso das fragmentações) a probabilidade de extinção das espécies se tornaria maior.
Posteriormente, Hanski & Simberloff (1997) criaram a Teoria da Metapopulação, acreditando que os indivíduos poderiam se deslocar para outra matriz e colonizá-la, dando sucessão à população local. No caso de áreas fragmentadas, os indivíduos que se deslocam não conseguem estabelecer populações. Isso provavelmente ocorre devido à falta de recursos e, principalmente, por habitats perturbados pela ação humana.
Mas, porque a fragmentação de “áreas verdes” pode levar várias espécies à extinção? Algumas espécies (grandes mamíferos, por exemplo) precisam de vastas áreas para sobreviver; com a fragmentação essas espécies seriam as primeiras a serem extintas (Soulé 1991) por não possuírem recursos suficientes.
Podemos exemplificar o estudo feito por Kageyama & Gandara, (1993); Hilty et al., (2006) que analisando a Hevea brasiliensis (seringueira), descobriram que sua densidade  por hectare (ha) é baixíssima necessitando de 25.000 ha para desenvolvimento de uma população que contenha necessariamente 500 indivíduos, o que evita que aconteça a depressão endogâmica. Segundo Hanski & Gilpin, (1991) essa mesma espécie precisaria de pelo menos cinco populações para manter a variabilidade genética.
A riqueza de espécies pode também interferir na diversidade, suponhamos que se uma espécie for extinta e essa espécie seja uma especialista de determinada planta e sua principal responsável por polinização, na ausência dessa interação haverá uma dificuldade na manutenção da planta e a tendência é que ocorra a extinção.
A variação em tamanho e forma e a perturbação permanente de locais utilizados como habitats interferem no desenvolvimento do ecossistema. Em áreas onde a perturbação era pequena, Csuti (1963, 1967) pôde observar que os animais se desviavam das “ilhas de perturbações”. O livre acesso dos animais a demais áreas é imprescindível para a conservação da espécie, fazendo que ocorra o intercâmbio entre populações mantendo fluxo gênico.
Para tentar solucionar esses problemas, que só vem aumentando com a ascensão do capitalismo (agricultura e habitação, por exemplo) o homem tenta até os dias atuais a translocação artificial, que é limitada e em pequena fração, devido às dificuldades de transporte, adaptação e entre outras medidas, sendo que algumas tentativas deram erro e dizimaram populações (exemplo: introdução de Boiga irregularis na Ilha de Gam).
Muitas espécies já estão em níveis vulneráveis, em perigo e críticos, o que desafia o homem a descrever arquiteturas genéticas populacionais e identificar e ordenar forças evolucionárias como: migração ou fluxo gênico, deriva genética aleatória, seleção natural, divergência mutacional e oportunidades de recombinações genéticas.
Surge então a ideia de corredores ecológicos que apoiados por muitos e criticados por outros, possui como definição da Lei Federal brasileira de nº 9.985/2000 que estabelece áreas de preservação: “porções de ecossistema naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência, áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais.”
Os corredores teriam distinção fisionômica em relação à matriz facilitando o movimento dos organismos com conectividade estrutural, que seria o espaço físico do ambiente e a conectividade funcional que analisaria se realmente a área de preservação com o uso de cercas-vivas ou reinterligação, por exemplo, seriam úteis ou não.
A implantação dos corredores gera muitas polêmicas entre os ecologistas e também o governo. Entre os especialistas contrários, porque defendem que em pequenos locais de implantação possa ocorrer o efeito de borda; pela facilitação das espécies invasoras; pelos impactos genéticos; transmissão de doenças e em alguns casos devido a não ser utilizado por alguns animais, justamente por ser mais fácil o encontro com predadores maiores nesses corredores. Já quanto ao governo há certa rejeição devido aos impactos econômicos provocados na implantação dessas áreas de preservação.
De maneira geral os estudos demonstram a urgência em se estabelecer medidas de proteção aos remanescentes florestais, novos estudos sobre a eficiência dos corredores ecológicos e/ou outros meios e que o intercâmbio entre populações é necessário para manter variabilidade genética e consequentemente a recolonização de habitas acontecerá, evitando a extinção local e regional. 

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